19 de agosto de 2010

Letras da Moenda 6


Gurizada...

Fechando o "Letras da Moenda", posto pra vocês as três últimas letras que estarão no palco do festival no próximo sábado. "Cabeça" de Vinícius Brum que será interpretada pelo autor; "Moleque" de João Corrêa, também interpretada pelo autor (bahh esse tal "autor" tem peso de música) e "Escritos no Muro Flutuante" de Jaime Vaz Brasil interpretada pelo meu excelentíssimo esposo, Robledo Martins (foto)

CABEÇA
Gênero/Ritmo básico: Milonga
Letra: Vinícius Brum (Porto Alegre – RS)
Música: Tuny Brum (Santa Maria – RS)
Intérprete: Vinícius Brum

Cabeça desalojada
Cada memória, um punhal
O pensamento é ferida
Aberta dentro do sal.
Cabeça a vestir nevoeiros
E dentro é só vendaval
Idéias feitas de raio
Solidão meridional.

Cabeça despetalada
Formigueiro, faxinal
Náufrago morro de sede
No meio do temporal.
Cabeça de casas velhas
Futura cabeça modal
As paredes têm
murmúrios
Choram lágrimas de cal.

Cabeça avessa cabeça
Num vestido fantasmal
Todas as folhas caindo
Do seu vazio outonal.
Desordenada cabeça
Desmantelada cabeça
Cabeça já sem cabeça
Na sua nudez primal.

O meu amor sem cabeça
Enlouquecendo sem pressa
Coração que me arremessa
Todo o bem, e todo o mal.


MOLEQUE
Gênero/Ritmo básico: MPB/Embolada Repentista
Letra e música: João Corrêa (Rio de Janeiro – RJ)
Intérprete: J
oão Corrêa

Dá-lhe Moleque!
Moleque esperto
Nasceu sem lua
Nasceu pra se virar
Pé-de-goiaba, abacateiro
Tantos quintais
Pra fome não matar
Pedindo esmola
Cheirando cola
Brincar no sonho
Dormir não acordar
Anjo descalço
Faltando asas
No voo triste
Estampado no olhar
Malabarista do asfalto quente
Pedindo a gente
Esperança pra lhe dar
Arma de fogo
Choro calado
Desesperado

Pronto pra atirar

A infância perdida no imenso Brasil
É o veneno desse país
Eu canto esta rebelde melodia
São os filhos de Deus nosso Senhor

Tem moleque na redoma da riqueza
Não imagina a pobreza
De um pequeno coração
Tem moleque cego, coxo, mudo e surdo
Que se vira absurdo
Um encontro com a emoção
Tem moleque a mercê de cão raivoso
Covarde impetuoso
Na perdida profissão
Tem moleque rasgando lindo sorriso
Que às vezes é preciso
Desvendar a solução
Tem moleque fruto da realidade
Filho da infeli
cidade
Cadê o futuro da nação?

Dá-lhe moleque!
Moleque esperto
Fazendo o certo
E a vida encontrar
Esconde-esconde
A brincadeira
Minha criança
Corra e vai brincar
Vá caminhando
Não tenha medo
Já desde cedo
Saiba enfrentar
A claridade
Sol de alegria
Quem sabe um dia
Isso tudo vai mudar

A infância perdida no imenso Brasil
É o ven
eno desse país
Eu canto esta rebelde melodia
São os filhos de Deus nosso Senhor


ESCRITOS DO MURO FLUTUANTE
Gênero/Ritmo básico: Milonga
Letra: Jaime Vaz Brasil (Pelotas – RS)
Música: Jo
ão Bosco Ayala e Everson Maré (Guaíba – RS)
Intérprete: Robledo Martins

Um vento leve em meu corpo
ergueu-me um pouco do piso.

(O real do imaginário
coração, já não diviso).

A mentira e a verdade
são vizinhas e distantes

erguendo suas pandorgas
sobre um muro flutuante.

(Alaridos de guerrilha,
mansidões de peregrino,

cada verso tem o peso
de um planador sem destino

voltando aos poucos à pista
que talvez ainda exista).

Do concreto ao intangível
o poema vai ao muro

pleno de pampa e de mundo,
solto às linhas do futuro.

A caminho da fronteira
o silêncio se conjuga

enquanto cerra ou transpassa
as portas de cada fuga.

(Olhos fechados, me escuto
e ouço por dentro um menino

dizendo que em cada verso
há um planador sem destino

voltando aos poucos à pista
que talvez ainda exista).

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